Traído  

Posted by Harijan D

Se perguntava como havia chegando a esta situação. Seus pés estavam encharcados, com areia nos dedos que deixavam seus passos, já descrédulos, inconfortáveis com o atrito, enquanto as ondas fracas daquela praia morta afagavam tristemente os tornozelos. Olhava ao redor, e embora sempre soubesse da possibilidade de algo assim ocorrorer, tendo escolhido a vida que levava, não queria acreditar no fato de ter sido abandonado, alí, pelos seus companheiros.
Levantou o braço e em algumas fracções de segundos, amaldiçoou-os evocando inúmeros nomes, mas não realizou o ato. Seu rosto contorceu-se de raiva, e fechou os olhos segurando o choro. Sem forças, despencou de joelhos ao chão de areia.

Olhou ao redor com sua face infeliz, na costa, apenas um vestígio de selva acolhida por uma neblina intensa. No mar, a pouca luz que ultrapassava a neblina daquela praia o permitia olhar pra fúria daquela imensidão d'água estranha.
As ondas debatiam-se violentamente, incontrolável. Sobre a superfície era apenas possível presenciar a explosão aquática de um grande embate entre dois demônios das águas, e em poucos metros antes da areia, uma calmaria abatia as ondas furiosas, reconfortadas pela neblina. Era possível ver o horizonte do mar, mas não o da praia. A neblina enconbria a visão. A Neblina encobria muitas outras coisas. Em nenhum momento deixou de temer a situação atual, ainda mais observando aquele barco repleto de traidores e luzes, distanciar-se cada vez mais além da brincadeira dos demônios. Mas não negava o fato de estar vivo, e se estava, era porque os demônios estavam demonstrando piedade. Virou o corpo para a praia e fez um aceno de gratidão, mas ao prosternar-se debateu com sua espada. Foi-se então toda sua apatia. Agarrou-a pela bainha, meio molhada, como o resto da arma, ergueu-a acima de sua cabeça na direção do barco, e em um silêncio sepulcral, jurou vingança! E no momento da explosão de tanta energia disposta, os demônios acalmaram-se repentinamente, mas aparentemente dando pouca atenção para o evento, pois voltaram de imediato a briga.



Levantou sem fazer um barulho, ajeitou a jaqueta de couro encharcada, chacoalhou o corpo pra tirar um pouco da areia, reajustou a bainha da espada no cinturão, tirou a lâmina, que sorria ao reluzir naquele local opaco, demonstrando, tanto nesse, quanto no gesto de ter retornado ao seu mestre, que era uma extensão do espírito do mesmo.
Segurou firme a espada pelo cabo, flexionou as pernas e o corpo em sua costumeira posição de combate. Gingou então com a graça de um espadachim muito experiente, e realizou um truque ensinado por seu mestre, mas desenvolvido à sua moda com o passar dos anos.
Rasgou a Neblina com um corte horizontal, e na abertura, uma luz brilhou iluminando-o. Não perdeu tempo, arremessou-se para dentro da fenda luminosa.

Girou, girou, até bater com as costas naquela encosta de areia. A claridade ofuscou-lhe a vista, obrigando-o a esfregar os olhos com força. Tateou o corpo verificando seu estado físico, e com olhos apertados, observou ao redor. O barco agora já estava longe, a mesma praia agora era clara com a luz do meio dia, queimando-lhe a pele sem perdão. Os demônios não mais furiosos estavam, e o mar normalizara.
A ilha agora revelava uma selva tropical de proporções gigantescas. Agora era possível ver com mais clareza, havia se livrado do temor maior. Havia passado no teste daquela ilha. Não podia mais perder tempo. Saulf precisava pagar, e sua tentativa de livrar-se do seu maior rival, fora-se. Seu capitão precisava ser vingado.

Jurou então, em nome de sua espada, de sua irmã e de seu capitão, que Drenn Nilannir faria honrar o nome do Dama da Noite, fosse o tempo que custasse, o caminho que se seguisse, e os inimigos que se mostrassem.

This entry was posted on outubro 09, 2008 at quinta-feira, outubro 09, 2008 . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

1 comentários

pintura sensacional meu caro!

5 de maio de 2009 às 15:19

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