Último e primeiro Tesouro  

Posted by Harijan D

Diário de Bordo do Capitão Devys Naryall Jow'nys, vulgo popular, Sangue Negro

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Hoje, graças ao bom tempo, podemos finalmente sair ao convés. Embora o Dama do Mar ainda esteja avariado, graças ao patife calhorda velhaco e covarde, muito mal e que se vá com os peixes do inferno, o Imundo Suja-Barba - marca de cuspe -, meus homens agora recuperam-se da batalha com afazeres de paz.

Como sempre, não perdi nada nos ataques, pois como já é de praxe da vida que escolhi, muito se perde quando muito se tem. Logo escolho o pouco que vale muito, sendo assim, complicado é perder de vista meus tesouros. Atualmente, dos três que mais almejo, permaneço apenas com dois. Rogo todos os dias para que todas as nereidas, sereias, e espíritos do mar, resgatem meu último, primeiro e eterno tesouro.

Busco acreditar que, embora muitas vezes desconfie do contrário, não fora por culpa daquele que concedeu-me o segundo tesouro, que não estás ao meu lado. Não cabe a mim julgar o que não vejo, e embora saiba, que de todos, ele seja o escolhido para guarda-lo, não necessito de mais nada, a não ser seu retorno aos meus aposentos.

Responsabilizo-me unicamente pela nossa separação, e renego todo meu orgulho do maior e imbatível espadachim dos mares que sou, se assim tiver que ser para tê-lo outra vez.

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Chegamos até o Grande Redemoinho, e estaremos em poucos dias no Espinho do Diabo. Precisamos repôr alguns mantimentos, mas não é este meu objetivo naquele chiqueiro. Aquele velhaco há de responder à Confraria seus feitos, e não descansarei enquanto o frio aço da minha justiça não se fizer sobre suas, das quais não tolero mais, inconcebíveis ações.

Mas um detalhe me fez preocupar. Avistei, sem que meus homens do fato soubessem, nas encostas pedregosas, um indivíduo pouco comum a essas bandas, acima da entrada da caverna que serve de atalho para o Golfo Sereno. Estava sentado, suas vestes, que não permitia sua total identificação, bem como as armas, não pertecem a esta terra. Permaneci observando-o, era como se estivesse há dias esperando alguém... ou me esperando. Mesmo adentrando aquela passagem cavernosa, que fazia nossa embarcação descer em velocidade exponencial, a sensação de estar sendo observado não se fora. Achei melhor não interpôr a preocupação em meus homens, pois se eles não o notaram, fico eu imaginando o quão perigoso pode ser. Talvez os feitiços daquele desprezível não tenham se dissipado totalmente, talvez.

Dentro do atalho, os Carangajos subiram e pularam à bordo violentamente. Abriram alguns buracos pelo casco, vela e convés, que transtornaram o bom humor dos meus dois construtores em segundos. Como de costume, as suas tão suntuosas boas vindas aos visitantes deste túnel-passagem terminaram no instante que avistaram-me. Engraçado é, perceber o quão não mais espertos estão, como costumavam ser, pois minha bandeira permanecia hasteada, justamente para evitar tais desgotos, e mau-humores. Pegaram nossa oferta sem muita selvajeria. Claro, sabem que comigo, não se deve brincar, ha HA! Afinal, da última vez, adorei aquele banquete de caldo de sirí.

Saímos do túnel, e no mesmo instante que fomos cuspidos para o Golfo Sereno com a violência das águas, o terrível ocorreu, aquele sujeito, de antes da nossa entrada à passagem, estava agora, acima da saída, sentado na mesma posição que eu havia visto-o antes, do outro lado.

Embora eu já tenha visto o inacreditável. Lutado contra o invencível. E vencido diversas vezes a Crueldade dos Mares. Não consigo imaginar quais poderes aquilo possui, para conseguir, em segundos, atravessar por terra o atalho que levamos, de barco e com uma violenta corrente impulsionando-nos tunél a baixo, cinco horas para completar. Ficou no entanto, claro que tal evento possui intenções secretas, e por via das dúvidas, deixei uma pequena tempestade de presente naquela saída. Se retornar a vê-lo, definitivamente não é um sujeito de faculdades levianas. Espero que nenhuma outra embarcação por aquelas águas, alí atravesse.

Nos distanciamos o suficiente para perder aquela costa de vista, assim como aquele tal não identificável. Meus homens não, mas posso ver o Espinho do Diabo, o qual aportaremos em dois dias. Evidentemente não posso negar minhas assombrações ao meu imediato, mas omiti o que vi.

Graças ao meu bom nome, preciso navegar com a bandeira de um mercador menor de uma outra terra que outrora estivemos, para evitar desagradáveis encontros. E se não fosse pelo meus amado tesouro, que torno a buscá-lo em alma e espírito, teria eu, pessoalmente, decidido me apresentar para aquele de roupas e poderes estranhos.

Cesso agora, por alguns momentos, meus relatos, sempre pensando em ti, tesouro meu.

No mais, temo pelo pior. E que as Águas Escuras nos guiem.

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This entry was posted on novembro 05, 2008 at quarta-feira, novembro 05, 2008 . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

1 comentários

oi

10 de novembro de 2008 às 13:59

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