Cidade Fantástica!!!  

Posted by Harijan D

Em um dia de pregos de prata, como são chamados os dias que chovem muito em Lumina, ao mesmo tempo que algo de muito importante ocorre, fazendo com que, em algum ponto da cidade, as gotas possuam um brilho extremo, dado os inúmeros holofotes e luzes de tal local; numa magivisão comum, de algum trabalhador cansado no último dia da semana...

- Caros magivisores! Aqui quem fala é o seu queridííííssíííímo amééégo do seu programa preferido das noites de Corvo, Garnebaltti, O iluminoso!
Estou aqui nesse exatííííssimo momento com o mais TCHAM, o mais POW, o mais UAAAAAAAAAUUUU do momento. Aquele que está em todos os Grandes Quadros da cidade! E não precisa ir até a janela, pois ele está aí na sua magivisão, e o melhor, AO MEU LADO!!! Coooooooddyyyyyyyyyth Laaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaann!!!


*Barulho extremo de multidão gritando*

- Então Coddyth! Diga pra gente, do que se trata esse seu último espetáculo FAAAAAANTÁÁÁÁÁSTICOOOOOOO!!! chamado Pequeno Rei Indefeso e o Grande Matador de Dragões???!!!

- YAAAAAAAAAAAHHH!!! Boa noite amigos! Do que se trata? Como assim do que se trata??? É ÓBVIO que se trata de MIM! E do meu último glorioso e magnífico feito!

- Não nos diga que você matou um draaaaaaagãooooooooooooooo???!!!

- CLARO SEU IDIOTA! Você acha que eu faria uma peça com esse nome, sobre uma ida minha ao banheiro???!!!

- Oooooooooooohhh Nooooossooooo Seeeeeeenhoooooooor!!! Um dragão de V-E-R-D-A-D-E???

- Alguém por favor tira esse cara da minha frente... me dá esse troço aí da sua mão, é isso aí que se fala, me dá logo isso antes que eu arranque suas pernas fora!!! Então caros amigos! Aqui quem fala é o seu herói preferido! O maior campeão dos campeões! O imbatível! Inigualável! O mais poderoso guerreiro que essa Cidade Fantástica das Luzes já viu! O seu arauto! EU! CODDYTH LANN!!! Venham ver a minha última peça! O Maravilhoso ato de bravura máxima! Um pequeno elfo desgarrado de sua família imoral e sórdida, em sua contenda para ajudar o povo Gnomo do Noroeste, onde seu rei, fraco e desnutrido, clama por ajuda para livra-los do maior mal que sua terra já enfrentou, o Dragão das Profundezas! O ÚLTIMO DRAGÃO VIVO!!! E que agora jaz em meu teatro, esperando VOCÊ!!! Venham logo, comprem seus assentos e esperem pelo pouso maravilhoso da mais bela embarcação de todos os tempos, o Zephyr d'Ouro!!! UM BEIJO SUCULENTO E QUENTE EM TODAS AS BELAS MULHERES DA CIDADE, e um abraço grande nas feias, velhas, homens e crianças! E VENHAM NA MINHA PEÇA! SEJA GUILDE, ACADÊMICO, BURGUÊS OU EXCLUÍDO!

- Eeeeeeeeeeeeeiii!!! Você não pode falar isso na... AHHHHRRRRRG!!! MINHAS PERNAS!!!

- ESTOU ESPERANDO VOCÊS!!! TCH...


Um barulho cessou, o quarto onde a magivisão permanecia, escureceu-se. O homem fora dormir, mas não dormia.

A cidade estava assim. Repleta de pessoas sedentas por fama. Isso maçava-o muito.
Desde o momento que chegara na cidade, tudo que ouvira antes foram conselhos de seu avô, um aposentado trabalhador de uma famosa guilda de construtores. Dos conselhos, o que mais permeava suas lembranças, fora justamenta aquele que considerara seu primeiro princípio, o respeito entre os cidadãos. E isso era bem verdade, praticado e mantido por todos os homens de louvor. Bastava sair à rua e perceber, homem ou mulher, que fosse digno do que comia, respeitavam-se mutuamente. De fato, havia um preconceito com aqueles de má índole, ou que não saibam cumprimentar adequadamente um vizinho ou companheiro de uma longa viagem de trem pela cidade. Tanto era o preconceito, que preocupava se alguém o fizesse demais, pois ganhava a desconfiança de ser um farsante, um ladrão à espreita por uma oportunidade.
Tudo isso, que lembrava, era de agora. Antes, era tudo melhor. Agora, a violência tomava conta. Já ouvira falar dos tempos remotos, quando não haviam a ajuda dos Filhos das Nuvens para iluminar seus lares, ruas e ferrovias, porém, era fato consumado que, desde o surgimento da Magivisão, a violência crescera.

Após casar-se, a preocupação apenas aumentou. O que remeteu à época da criação de sua filha. Não permitia-a andar sozinha pelas ruas, pelo menos até completar seu Ciclo de Aprendizado Básico na mesma guilda que seu avô trabalhara. Afinal, graças ao bom nome dele, fora indicado e iniciado, e agora, honrando o pai de seu pai, cruzava a cidade, erguendo prédios e construções no melhor estilo Antigo da arquitetura local. Se especializara nela, junto com seus colegas de divisão nesta Guilda de Construtores. No entanto, sua herdeira demonstrou olhos para outro aspecto da construção, o estilo Escultural Novo. Era um estilo estranho, muito trabalhado por mentes jovens, claro, afinal, nem todos apreciavam aquelas edificações esculpidas, que simbolizavam muitas vezes, mais do que mil olhos podem vivenciar.

O orgulho pela filha era grande. No dia de seu casamento, com um jovem também da mesma Guilda, e de interesses mútuos, um grande rebuliço se sucedeu naquela Casa de União, graças ao antigo namorado dela, um arruaceiro, antigo morador da vizinhança. Este, coitado, havia falhado desde sempre no seu arranjo por uma vida certa e digna. Começou desde cedo a tomar Chá de Mol, o que levou-o a invadir inúmeras propriedades, aliar-se com outros vagabundos viciados dos arredores, e até a tentar induzir sua filha ao consumo da mesma maldita bebida. Era uma alívio imenso ver sua filha longe de um traste como esse, que, de fato não fora capaz de acabar com aquele casamento. Não que o rapaz carecesse de capacidade nas artes marciais, pelo contrário. Era visível como o casamento de uma ex-namorada pertubava-o tanto, pois seus olhos, no dia tal, denunciaram-no a todos presentes na comemoração. O coitado não tivera forças, fora incapaz de abater sequer um dos dois Guardas do Ouro que foram contratados.

Mas em realidade, não sentia raiva do pobre cidadão. Pois ele, mesmo sendo filho de pais decentes, não se enquadrava no perfil daquela cidade. Tornarasse algo contra sua vontade, pois não era acolhido como um lutador. É verdade que todos sempre notaram a capacidade daquele jovem, e poucos o viram perder um duelo, mas desde que os duelos tornarão-se ilegais, muitos destes lutadores perderam seu ganha pão, ou foram cruelmente caçados pela Guarda de Lumina. Desde então, os que não possuem dons, ou que não conseguem adentrar o sistema burocrático da vida civilizada, tornam-se tão excluídos como aqueles dos Bairros Mortos.

E agora, nessa altura dos tempos, após tantos anos desde a celebração daquele matrimônio, nunca mais tivera notícias daquele jovem, ex-possível genro, que assim era melhor. Imaginou sua situação vivendo como um bandido, ou como um mendigo. Talvez tenha até se aliado ao grupo A Mancha, comentendo delitos em nome de ideais profanos. Era certo que, de vez enquando, rezava para A Cidade acolhe-lo, dar-lhe uma oportunidade de mudar.

Ninguém pensava nos desfavorecidos. Ninguém tinha tempo para isso. Assim que abrisse os olhos de novo, precisava focar sua mente na estrutura da qual trabalhava agora, aquele grande novo Museu do Atual. Mais um, dos cinco que haviam apenas no seu distrito. O segundo que construira, pois o anterior tivera seu avô como um dos responsáveis. De fato, muitas informações e acontecimentos surgiam mais rápido que Espíritos de Raios abandonavam suas lâmpadas, e era necessário locais para armazenar tais fatos. Mas ao mesmo tempo que a cidade crescia, crescia o número de pessoas, de ganância, de famosos e de seguidores de famosos.
A cidade oferecia uma chance de uma vida repleta de delírios e prazeres, gritado os quatro pontos cardeais e além! E muitos, não encontravam durante toda uma vida tais promessas.

Coddyth era de fato, uma sensação do momento. Sua filha falava mais dele do que de seu esposo na presença do pai. Era notável o desconforto de seu genro em tais momentos. Até tentava desconversar, mas sua filha comporta-se como uma menina quando o assunto é este. E não diferente é o filho de sua filha, seu neto, que de brinquedos, todos eram bonecos dos membros da Companhia das Aventuras Fantásticas, o grupo teatral que se apresentava naquele imenso, e provavelmente estupidamente caro navio flutuante. E isso realmente o irritava. Pois aquela Embarcação Aérea deveria valer todo os Denaris que sua família, assim como todas as famílias de sua Guilda, possuíam, juntas, no banco, multiplicada por muito... Vai lá saber por quanto...

Barcos flutuantes, celebridades, sua família, a violência e a Cidade. Preocupações de um homem comum daquela imensa solidão conglomerada e iluminada. Por sorte, sua esposa acompanhava-o no sofrimento de cada dia, e juntos, rezavam para que Ela, a Protetora da Cidade, ajudasse naquele próximo e difícil dia de trabalho, e para o duelo, sem armas, que já estava combinado, logo após o término do expediente, com aquele colega de Guilda.

This entry was posted on abril 30, 2009 at quinta-feira, abril 30, 2009 . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

2 comentários

esperando a continuação.....

30 de abril de 2009 às 12:14

Ficou maneiro bro, é um conto mais de ambientação da cidade do que de outra coisa, ao meu ver.

1 de maio de 2009 às 22:48

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